A defasagem na escrita e leitura dos estudantes brasileiros, levou o ex-investidor Thiago Rached, em parceria com o professor de português Luis Junqueira, a fundar a Letrus, edtech que combate a desigualdade educacional por meio do aperfeiçoamento da escrita.
Com o auxílio da inteligência artificial (AI), o programa corrige, avalia e comenta textos elaborados pelos alunos. Em 2020, a iniciativa foi reconhecida como a melhor tecnologia educacional do mundo pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
“Antes de qualquer coisa, letramento é uma questão de dignidade”, diz Rached. “Além de combater a discrepância na educação brasileira, essa tecnologia ajuda no desenvolvimento de competências estruturantes, como pensamento crítico, estruturação de ideias e capacidade de expressão.”
A Letrus faz parte dos 120 negócios de impacto social que estão contribuindo para a mobilidade social no país, segundo o levantamento conduzido pela Fundação Grupo Volkswagen, em parceria com a Artemisia, organização de fomento e aceleração de negócios de impacto.
“Há muito tempo, o ‘elevador social’ do Brasil está quebrado. E a pergunta que fazemos nesta pesquisa é: como as inovações sociais e os negócios de impacto podem ajudar a consertar este elevador e mudar o atual cenário nacional de grande desigualdade?”, questiona Vitor Neia, diretor-geral da Fundação Grupo Volkswagen.
Neia afirma que estes negócios não ambicionam nem devem resolver o problema da desigualdade social em sua totalidade. Porém, segundo ele, os empreendimentos funcionam como uma complementação às ações do governo, que precisa ter o protagonismo nesta “luta”.
A pesquisa priorizou investigar onde a atuação destes negócios apresentam maior potencial de contribuição e, também, quais os cuidados necessários para garantir a viabilidade dos modelos, além dos impactos sustentáveis.
“Para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, é fundamental conhecer a fundo os problemas e desenhar estratégias que tornem a mobilidade social uma possibilidade real”, diz Priscila Martins, diretora-executiva da Artemisia.
Espalhados em todo o território nacional, os empreendimentos estão divididos em três alavancas prioritárias: educação, geração de renda e inclusão financeira. A separação, segundo Martins, é estratégica, pois a mobilidade depende, além do ensino formal, de um mercado de trabalho que ofereça uma fonte de renda digna, constante e com certo grau de estabilidade; bem como a redução dos riscos de retorno à pobreza, especialmente em tempos de crise.
“A saúde, incluindo a mental, e o acesso a outros direitos básicos como moradia, saneamento e cultura são também importantes”, afirma Martins.
A motivação para o estudo, segundo Neia, está na “absurda” desigualdade social do Brasil.
O estudo foi norteado pelo pensamento do economista Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia 1998, que, em seus estudos, contestou a relação entre o crescimento econômico dos países e o impacto na melhoria da qualidade de vida da população mais pobre. Ele concluiu que essas duas variáveis não estão diretamente correlacionadas.