O café brasileiro vive um novo momento no mercado chinês, com negócios importantes já consolidados e oportunidade significativa de expansão. É o que concluiu o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Pavel Cardoso, após participar do jantar que fechou a visita de Estado da China no Brasil.
Realizado na noite desta quarta-feira (20/11), no Palácio do Itamaraty, em Brasília, o jantar foi realizado pelo governo brasileiro em um rito de homenagem ao presidente chinês Xi Jinping, depois de um dia de assinatura de 37 acordos, dos quais quatro se referiam à abertura de novos mercados agrícolas do Brasil para a China.
Cardoso atribui o “novo momento do café” na terra do chá ao aumento de consumo do grão na Ásia, e principalmente ao recente negócio firmado entre as entidades brasileiras, coordenadas pela Apex Brasil, com a Luckin Coffe, que é a maior rede de cafeterias chinesa com 22 mil lojas.
A Luckin Coffee comprará 240 mil toneladas do grão do Brasil entre 2025 e 2029 a um valor recorde de aproximadamente US$ 2,5 bilhões. O compromisso anterior de US$ 500 milhões para a compra de 120 mil toneladas até o fim deste ano foi assinado em junho durante missão brasileira à China.
“Para se ter uma ideia, em 2022 o Brasil exportou US$ 80 milhões à China; em 2023 exportou US$ 280 milhões e esse acordo soma ainda mais só ara uma única empresa, o que dá um indicativo do ramp up incrível do aumento do consumo de café que a China está tendo”, exemplificou em relato enviado ao Valor, após o jantar.
Para Cardoso, a evolução do interesse chinês no café brasileiro é estratégica e vem acontecendo há mais de uma década. “Em 2009, a China consumiu 300 mil sacas de café e ano passado passou para 6 milhões de sacas do grão. Isso ainda é 200 gramas de café por habitante, em média”, citou.
Além de exportar grão verde, acrescentou o presidente da Abic, a provocação que a indústria de café tem feito é agregar valor ao produto do Brasil, aumentar as exportações para a China e ao mundo também como forma de café industrializado.
“Depois do lançamento da certificação para cafés especiais brasileiros, nós temos no país um terreno fértil para exportar e agregar valor em forma de produto acabado”, afirmou.
Cardoso aposta em ações de construção de imagem, como foi colocar a marca “Cafés do Brasil” no GP de São Paulo da Fórmula 1, realizado mês passado, como uma das iniciativas de visibilidade “que o industrial brasileiro precisa ter lá fora para embarcar café em forma de produto acabado”.
Entretanto, ele pondera que é um desafio grande para a indústria, pois das quase 50 milhões de sacas que o Brasil deve exportar esse ano, de acordo com dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), apenas 0,1% é café torrado e moído. “Isso pode ampliar a participação do café do Brasil no mundo, país que é responsável por 40% da produção global, mas que fica apenas com 16% do comércio mundial para o grão verde, e com apenas 3% do PIB do café - dado que inclui o consumo fora do lar e o consumo de multi-bebidas derivadas”, ressaltou o presidente da Abic.